O
que é o Talmud?
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Rabino Adin Steinsaltz, sábio responsável pela tradução do Talmud ao hebraico moderno, ao inglês e ao russo referiu-se à importância dessa obra magistral com as seguintes palavras: “Se a Torá é a pedra fundamental do judaísmo, o Talmud é seu pilar central, que se projeta para o alto baseando-se em seus fundamentos e que sustenta o magnífico conjunto de sua edificação espiritual e intelectual”. |
O Talmud define e dá
forma ao judaísmo, alicerçando todas as leis e rituais judaicos. Enquanto o Chumash (o
Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés) apenas alude aos Mandamentos, o Talmud os explica,
discute e esclarece. Não fosse este, não entenderíamos e muito menos
cumpriríamos a maioria das leis e tradições da Torá e o judaísmo não existiria.
Historicamente, os judeus que, individualmente ou em grupo, negaram sua
validade, acabaram por se assimilar ou desaparecer. E, como outras religiões
adotaram o texto da Torá
Escrita - Torá
she-bichtav, mesmo a tendo traduzido de forma errada, adicionando
ou removendo partes da mesma e a interpretando de forma proibida pelo judaísmo,
é o Talmud
o verdadeiro divisor de águas, o texto sagrado que diferencia os judeus das
outras nações do mundo.
Nós, judeus, sempre tivemos consciência de que nossa sobrevivência como grupo dependia do estudo deste trabalho. Os inimigos históricos de nosso povo, que devido a interesses teológicos ou nacionais quiseram converter ou destruir o judaísmo, também estavam cientes dessa realidade. No passado, quem se aventurava a declarar guerra à religião judaica, começava por proibir o estudo do Talmud, sob risco de pena de morte. Através do curso da história, em diferentes países e períodos, esta magna obra foi queimada, em praça pública. Muitos de seus trechos foram removidos por aqueles que se sentiam ameaçados por sua genuína interpretação da Torá, pela elucidação clara e inequívoca que dava aos Mandamentos Divinos e por seu repúdio absoluto a qualquer forma de idolatria ou imoralidade.
Nós, judeus, sempre tivemos consciência de que nossa sobrevivência como grupo dependia do estudo deste trabalho. Os inimigos históricos de nosso povo, que devido a interesses teológicos ou nacionais quiseram converter ou destruir o judaísmo, também estavam cientes dessa realidade. No passado, quem se aventurava a declarar guerra à religião judaica, começava por proibir o estudo do Talmud, sob risco de pena de morte. Através do curso da história, em diferentes países e períodos, esta magna obra foi queimada, em praça pública. Muitos de seus trechos foram removidos por aqueles que se sentiam ameaçados por sua genuína interpretação da Torá, pela elucidação clara e inequívoca que dava aos Mandamentos Divinos e por seu repúdio absoluto a qualquer forma de idolatria ou imoralidade.
Mas, o que vem a ser esta obra monumental? Pode-se dizer, com segurança, que a maioria dos judeus de nossos dias já ouviu menção ao mesmo, mas apenas uma pequena minoria o estudou. Sua definição formal é a de ser a compilação da Lei Oral, que foi transmitida por D’us a Moisés, no Monte Sinai, tendo sido estudada e dissecada, através dos séculos, pelos sábios que viviam em Israel e na Babilônia, até o início da Idade Média. O Talmud tem dois componentes principais: a Mishná, um livro sobre a lei judaica, escrito em hebraico, e a Guemará, comentário e elucidação do primeiro, escrita no jargão hebraico-aramaico.
Um olhar superficial sobre a Guemará pode induzir alguém a pensar que se trate apenas de explicações e elaborações sobre as leis e ensinamentos da Mishná. Mas, na realidade, trata-se de algo muito mais abrangente um conglomerado de milhares de anos de sabedoria, história, legislação, lendas e filosofia judaica. Sua santidade e autoridade, como veículos para a Revelação Divina, em nada são inferiores à da Torá Escrita. Ademais, mistura - entre outras áreas do conhecimento - as ciências à lógica, aconselhamento prático, lições e relatos extraordinários, palavras de perspicácia e inspiração e, até mesmo, ocasionais toques de humor. O Talmud é uma mescla de arte e ciências: é o livro da legislação judaica - técnico e preciso - mas é também uma enciclopédia e uma obra magistral de sabedoria, jamais igualada na história da humanidade.
Para um iniciante no estudo do Talmud, a Guemará pode parecer que foi escrita com total liberdade de pensamento. Geralmente envereda por apartes tangenciais ao assunto em pauta, daí partindo para a discussão de um mandamento, o relato de uma história ou simplesmente oferecendo pérolas de sabedoria que, de uma maneira ou de outra, têm alguma relação com o assunto tratado. No entanto, a bem da verdade, todo o seu arcabouço é extraordinariamente bem ordenado e lógico. Cada uma de suas palavras foi submetida à meticulosa revisão antes de ser transcrita.
É irônico que esta fonte básica e fundamental da lei judaica sirva muito raramente como autoridade final e definitiva para as discussões sobre o que a Torá nos ordena. Seguimos este Pentateuco de acordo com os ditames do Shulchan Aruch (o Código da Lei Judaica) e dos sábios contemporâneos que interpretam as aplicações de suas leis. Mas o Talmud permanece sendo o alicerce imutável para praticamente todas as leis que emanam da Torá.
A Torá Oral
O
Talmud cobre uma ampla variedade de assuntos, seguindo, no entanto, um
plano coerente e muito bem estruturado a dizer, a Mishná, pilar central
da Lei Oral. Comparada à Guemará, é concisa e objetiva. Compõe-se de uma
série de declarações, organizadas por assunto e tópico, que ensinam as leis, a
tradição e a história judaica. Apesar de seu conteúdo se originar do Monte
Sinai, algumas de suas declarações são atribuídas ao mestre ou à escola de
pensamento que as elucidou e difundiu. Os sábios talmúdicos foram mais do que a
simples “cadeia de transmissão” que remonta a Moshé Rabeinu. Pois está escrito que
cada um deles tinha atingido tão elevado nível espiritual que conseguia até
mesmo ressuscitar os mortos. Esses mestres da Torá personificavam a
Vontade de D’us e, assim sendo, cada aspecto de sua conduta e cada uma de suas
palavras foram marcadas por absoluta precisão e orientação Divina.
É a Mishná que provê a Guemará de sua base organizacional e factual. Cada uma das leis talmúdicas precisa ter uma fonte e esta é encontrada na Mishná. A Guemará pode dissecar e divagar sobre os ditames da Mishná, estabelecer conexões entre seus diferentes assuntos e esclarecer aparentes contradições, mas não pode abertamente discordar da mesma. A Mishná surge como o árbitro final em qualquer litígio talmúdico.
Há outras coletâneas de diretrizes e ensinamentos, que são parte integrante da Torá Oral: Sifra e Sifri, Tosefta e Bareitot, além dos Midrashim, que também foram preservados por escrito, muitos dos quais dentro da própria Guemará. No entanto, a Mishná tem precedência sobre os demais ensinamentos da Torá Oral. Isto significa que sempre que houver uma aparente contradição entre um ditado da Mishná e qualquer outro ensinamento da Lei Oral, caberá à Guemará buscar a verdade na qual se fundamenta o tema, com base na própria Mishná.
É importante mencionar que quando as pessoas falam no Talmud, geralmente estão-se referindo ao Babilônico. No entanto, há outro que foi escritoem Israel. Conhecido
como o de Jerusalém o Talmud Yerushalmi foi revisado pelo Rabi Yochanan
300 anos após a destruição do Segundo Templo. É bem mais conciso que o Talmud
Bavli, o Babilônico, pois, de fato, trata principalmente das leis
referentes à Terra de Israel. Via de regra, os judeus que viviam na diáspora
negligenciavam a obra compilada em Jerusalém, mas, nos últimos anos, vimos
renascer o interesse por essa obra, devido grandemente ao retorno de milhões de
judeus à Terra de Israel.
Desde o Monte Sinai, a Torá Oral - ou Torá she-be’alpê - como seu nome bem o indica, só foi transmitida oralmente. Por razões várias, nossos sábios nunca permitiram que fosse escrita. Mas, uma vez destruído o Segundo Templo, os líderes judeus começaram a se preocupar que a Torá Oral, sendo tão maciça e complexa, cairia no esquecimento em virtude da opressão romana e a conseqüente dispersão do povo judeu. No ano de188 a .E.C., o Rabi Yehudá
ha-Nassi, sábio cuja inigualável liderança e vastidão de conhecimentos sobre a Torá
lhe valeram o título de o “Rabi (do Talmud)”, finalmente terminou de
compilar a Mishná. Centenas de anos mais tarde, já no final do séc. IV
da E.C., Rav Ashi, importante sábio babilônico, iniciou a compilação de todo o Talmud.
Seus discípulos e os alunos destes deram continuidade à gigantesca obra de
redigi-lo. No entanto, diferentemente da Mishná, o Talmud foi
oficialmente completado por nenhum erudito em particular; daí dizer-se que
“ainda está por ser terminado”. Através dos séculos, suas palavras e
ensinamentos foram meticulosamente analisados, interpretados e explicados por
incontáveis sábios, estudiosos e mestres. É geralmente comparado ao oceano sua
vastidão é tremenda, mas sua profundidade é incomensuravelmente maior. De fato,
é um fiel testamento da Infinita Torá de D’us.
É a Mishná que provê a Guemará de sua base organizacional e factual. Cada uma das leis talmúdicas precisa ter uma fonte e esta é encontrada na Mishná. A Guemará pode dissecar e divagar sobre os ditames da Mishná, estabelecer conexões entre seus diferentes assuntos e esclarecer aparentes contradições, mas não pode abertamente discordar da mesma. A Mishná surge como o árbitro final em qualquer litígio talmúdico.
Há outras coletâneas de diretrizes e ensinamentos, que são parte integrante da Torá Oral: Sifra e Sifri, Tosefta e Bareitot, além dos Midrashim, que também foram preservados por escrito, muitos dos quais dentro da própria Guemará. No entanto, a Mishná tem precedência sobre os demais ensinamentos da Torá Oral. Isto significa que sempre que houver uma aparente contradição entre um ditado da Mishná e qualquer outro ensinamento da Lei Oral, caberá à Guemará buscar a verdade na qual se fundamenta o tema, com base na própria Mishná.
É importante mencionar que quando as pessoas falam no Talmud, geralmente estão-se referindo ao Babilônico. No entanto, há outro que foi escrito
Desde o Monte Sinai, a Torá Oral - ou Torá she-be’alpê - como seu nome bem o indica, só foi transmitida oralmente. Por razões várias, nossos sábios nunca permitiram que fosse escrita. Mas, uma vez destruído o Segundo Templo, os líderes judeus começaram a se preocupar que a Torá Oral, sendo tão maciça e complexa, cairia no esquecimento em virtude da opressão romana e a conseqüente dispersão do povo judeu. No ano de
O estudo do Talmud
Em
hebraico, esta palavra significa literalmente “estudo” ou “aprendizado”. É a
incorporação do fundamental mandamento judaico de “estudar a Torá” - Talmud
Torá. Ao contrário de quase todos os outros campos do saber, o estudo do
Pentateuco tem propósitos que vão muito além da simples aquisição de
conhecimentos. É um meio e um fim, por si só; seu objetivo é o próprio
aprendizado. Portanto, o grau de importância e aplicação prática da matéria em
discussão tem importância secundária. Isto não significa que não tenha
relevância. Pois como aprendemos com nossos mestres, o estudo da Torá é
o maior de todos os mandamentos judaicos, uma vez que faz com que se evitem os
pecados e se pratiquem atos positivos e boas ações que beneficiem nossos
semelhantes. É óbvio que para aprender as leis do judaísmo - e os princípios e
detalhamentos necessários para cumpri-las - é imprescindível estudar a Torá.
Segundo esta perspectiva, este estudo tem um propósito prático. No entanto, o
simples fato de a estudar - mesmo que não haja nenhuma aplicação prática ou
razão para fazê-lo - é extraordinariamente precioso aos olhos dos Céus. Alguns
de nossos mestres foram ainda mais longe, ao dizer que o estudo da Torá,
apenas, é mais importante do que o cumprimento dos outros mandamentos, apesar
de nenhum deles ter o poder de substituir o outro. Pois como está escrito nas
preces matinais que recitamos todos os dias,...”Elu devarim…São estes os mandamentos
que, se os praticar, o homem colherá os frutos neste mundo, enquanto que a sua
recompensa final o esperará na vida futura: honrar pai e mãe, praticar atos de
bondade, ...promover a paz entre os homens; mas, acima de tudo, reina soberano
o estudo da Torá, cujo valor a todos eles se equipara” (Mishná:
Peá 1:1).
A raiz da palavra hebraica Torá é hora’á - ensinamento. O Pentateuco ensina ao homem o caminho que terá que seguir se optar por viver de acordo com os desejos e diretrizes de D’us. Aquele que estuda a Torá precisa viver de uma forma que honre e eleve o judaísmo e o povo judeu. Sua vida e conduta devem refletir a sabedoria, piedade, compaixão e todos os outros ideais incorporados pela Torá. Pois, caso contrário, diziam nossos sábios, “melhor seria nunca ter vindo a este mundo”. Afirmavam, também, categoricamente, que aquele que alega ter adquirido a sabedoria da Torá, mas não cumpre os seus mandamentos nem pratica boas ações, não a incorporou, de fato, dentro de si.
Existe uma concepção errônea generalizada de que a Torá é simplesmente um livro de lei e história judaica-divina, mas, ainda assim, apenas isto. A verdade é que representa a Vontade e a Sabedoria do Criador. O Talmud discute uma grande variedade de assuntos - uns sublimes, outros mundanos - mas todos, de alguma forma, refletem o relacionamento e envolvimento de D’us com este Seu mundo. Diferentemente das obras da Cabalá, preocupa-se, sobretudo, com o terreno e o mundano. Discute o que há de mais intrincado e, às vezes, o que aparenta ser totalmente irrelevante na lei judaica. Porém, oculto em suas lições e ditames, escondem-se profundos segredos e ensinamentos espirituais e místicos.
A Torá abarca todos os assuntos e a estudamos para entender como nos relacionar e agir diante de cada um destes. Nas palavras do Rabino Steinsaltz: “Os mandamentos e as aplicações práticas das leis da Torá estão subordinados à busca pela verdade que se esconde por trás de todas as coisas. O propósito sublime do Talmud não é utilitário, de forma alguma - mas unicamente a busca da verdade”. É por esta razão, como vimos acima, que a aplicação prática de qualquer tema nele discutido é de importância secundária. O que esta obra busca é a verdade e a visão da Torá sobre qualquer assunto ou matéria, quer seja legal, histórico ou filosófico. Portanto, uma prova ou declaração que possa dar a impressão de ser auto-evidenciada poderá ser questionada ou mesmo rejeitada pelo Talmud - pois pode conter alguma falha sutil, quase imperceptível em sua lógica ou argumentação. Este apenas aceita a argumentação mais convincente. Simboliza a busca do judaísmo pela verdade absoluta. Não há dogmas na religião judaica: quase tudo pode e deve ser questionado, apesar de que a pessoa conscienciosa deve entender que a alma humana ainda não está preparada e, portanto, não pode pretender compreender, em toda a sua plenitude, a Vontade e a Sabedoria do Criador.
Como o objetivo primordial do Talmud é essa busca da verdade, esta obra é praticamente toda estruturada em perguntas e respostas. E mesmo quando as perguntas não são explicitamente articuladas, encontram-se por trás de cada afirmação e ensinamento. Talvez seja o único livro sagrado, no mundo, que não apenas permite, mas estimula os que o estudam a questioná-lo. A Sabedoria de D’us está oculta em suas palavras, cabendo a cada um dos que o estudam, seja este sábio ou iniciante, tentar desenterrá-la. No entanto, é preciso lembrar-se que a Torá, em sua plenitude, originou-se de D’us; cada um de seus ensinamentos que já foi ou venha a ser praticado, foi transmitido a Moisés no Monte Sinai. Assim sendo, quando um sábio Talmudista faz uma afirmação, ele não está agregando ou opinando sobre algo, mas sim revelando um assunto da lei ou da sabedoria Divina. Aquele que domina as matérias acerca da lei judaica precisa ser um verdadeiro mestreem
Torá. E deve entender que carrega consigo a tremenda
responsabilidade de discernir e transmitir a Vontade de D’us ao povo judeu.
Seus ensinamentos devem ser firmemente arraigados no Talmud e no Código
da Lei Judaica, devendo ser uma extensão viva da Torá, originalmente
entregue a Moisés.
É bem verdade que há diferenças de opinião no Talmud e isto, infelizmente, tem sido usado como desculpa para interpretações pessoais e aplicações impróprias ou tentativas de “reformular” as leis da Torá. Estas concepções errôneas geralmente são oriundas da falta de entendimento da dimensão espiritual da lei judaica. Diferentemente dos campos de conhecimento secular, pontos de vista diferentes sobre a Torá não constituem imprecisão ou erro. Pelo contrário, os mandamentos aparentemente contraditórios - que na prática, são raros - refletem as diferentes maneiras pelas quais D’us se relaciona com o mundo: por vezes com flexibilidade e condescendência, por vezes, com maior severidade. Uma das maiores polêmicas históricas no Talmud ocorre entre as escolas de dois grandes sábios: Hillel e Shammai. Suas disputas acabaram sendo resolvidas por uma voz que emanou dos Céus, afirmando: “Ambos transmitem as palavras do D’us Vivo, mas a decisão está alinhada com a escola de Hillel”. O fato de um método ser preferível ao outro não invalida o outro nem significa que seja impreciso, de forma alguma. Os místicos judeus ensinaram que Hillel personificava o atributo Divino da flexibilidade e condescendência, enquanto que Shammai incorporava as qualidades Divinas da precisão e do rigor. Explicam que como vivemos em um mundo imperfeito, necessitando constantemente de misericórdia, seguimos, quase que sem exceção, os mandamentos da Torá de acordo com os ditames da escola de Hillel. Na era messiânica, no entanto, quando o mundo atingir um estado de perfeição, iremos seguir a Torá como a ensinava Shammai. Por isso, devemos sempre lembrar que não há ensinamento alheio, não pertinente, no Talmud. Ainda que não sejam seguidos os ensinamentos de um determinado sábio - qualquer que seja a razão para tal - não podem, de forma alguma, ser depreciados, pois também esses preceitos são oriundos do Monte Sinai. Há uma história sobre um sábio que afirmou que um certo ensinamento não era de seu agrado, sendo repreendido por seus colegas que lhe disseram ser errado afirmar que “isto é bom e isto não é”, em se tratando da Torá.
O Pentateuco, em sua totalidade, é perfeito e aquele que o estuda com o espírito preparado - e com todo o respeito que merece - conecta-se de imediato com D’us. Pois o Senhor de Tudo, cujo Saber é Infinito, “condensou” Sua Sabedoriaem Sua Torá ,
para que o homem possa entender o pouco sobre Ele que pode ser compreendido
pela mente humana. O mérito no estudo da Lei de Moisés, por si só - não com o
intuito de conquistar honras e louvores - tem inestimável valor para os Céus. Sobre
o estudo do Talmud, especificamente, declarou o Rabi Yehudá ha-Nassi:
“Não há medida maior de recompensa do que esta”.
Através dos séculos, o povo judeu fez muitos sacrifício, para poder estudar e ensinar e, desta forma, preservar o Talmud. Entenderam - da mesma forma, como, infelizmente, o fizeram seus inimigos - que, de fato, era o que os preservava. Não há antídoto maior contra a assimilação judaica do que o estudo da Torá. E esta é uma das razões pelas quais, juntamente com a prática da caridade, constitui o maior dos mandamentos Divinos. Mas este estudo serve como uma confirmação disso, ainda maior do que a sobrevivência coletiva do povo judeu. Ensinam os nossos sábios que o estudo adequado da Torá “salva e protege” e é fonte de bênçãos para uma vida longa, com fartura e benesses. Pois está escrito: “O alongar-se da vida está na sua mão direita; na sua esquerda, riquezas e honra” (Provérbios, 3:16). Mesmo se apenas um único indivíduo estudar a Torá, são tantos e tão grandes os seus méritos, que têm o poder de acarretar bênçãos para o mundo inteiro. O judaísmo ensina que toda a existência física é sustentada pela força da oração, pelo estudo da Torá e pela prática de atos de bondade e justiça. Aquele que estuda a Lei de Moisés, torna-se, portanto, parceiro d’Aquele que sustenta o Universo por Ele criado.
Os sábios talmúdicos e mestres da Cabalá revelam que o estudo da Torá serve como escudo para a alma humana, protegendo-a após a vida. E, como “não há esquecimento diante do Trono de Glória do Senhor”, mesmo se uma pessoa esquecer parte da sabedoria da Torá que adquiriu, sua alma a recorda e a transporta para a eternidade. Contanto que a pessoa se mantenha fiel a seus preceitos, aprofundando-se nos mesmos e andando por seus caminhos, esta mesma Torá sempre implorará diante da Corte Celestial por essa pessoa e por todo o povo judeu. Por isso, afirmamos na prece que celebra o término de um tratado do Talmud: “A ti voltaremos e tu retornarás a nós; nossos pensamentos estão fixos em ti, assim como os teus estão fixos em nós; não te esqueceremos assim como tu não nos esquecerás - nem neste mundo, nem no Mundo Vindouro!”
Tev Djmal
Tradução: Lilia Wachsmann
A raiz da palavra hebraica Torá é hora’á - ensinamento. O Pentateuco ensina ao homem o caminho que terá que seguir se optar por viver de acordo com os desejos e diretrizes de D’us. Aquele que estuda a Torá precisa viver de uma forma que honre e eleve o judaísmo e o povo judeu. Sua vida e conduta devem refletir a sabedoria, piedade, compaixão e todos os outros ideais incorporados pela Torá. Pois, caso contrário, diziam nossos sábios, “melhor seria nunca ter vindo a este mundo”. Afirmavam, também, categoricamente, que aquele que alega ter adquirido a sabedoria da Torá, mas não cumpre os seus mandamentos nem pratica boas ações, não a incorporou, de fato, dentro de si.
Existe uma concepção errônea generalizada de que a Torá é simplesmente um livro de lei e história judaica-divina, mas, ainda assim, apenas isto. A verdade é que representa a Vontade e a Sabedoria do Criador. O Talmud discute uma grande variedade de assuntos - uns sublimes, outros mundanos - mas todos, de alguma forma, refletem o relacionamento e envolvimento de D’us com este Seu mundo. Diferentemente das obras da Cabalá, preocupa-se, sobretudo, com o terreno e o mundano. Discute o que há de mais intrincado e, às vezes, o que aparenta ser totalmente irrelevante na lei judaica. Porém, oculto em suas lições e ditames, escondem-se profundos segredos e ensinamentos espirituais e místicos.
A Torá abarca todos os assuntos e a estudamos para entender como nos relacionar e agir diante de cada um destes. Nas palavras do Rabino Steinsaltz: “Os mandamentos e as aplicações práticas das leis da Torá estão subordinados à busca pela verdade que se esconde por trás de todas as coisas. O propósito sublime do Talmud não é utilitário, de forma alguma - mas unicamente a busca da verdade”. É por esta razão, como vimos acima, que a aplicação prática de qualquer tema nele discutido é de importância secundária. O que esta obra busca é a verdade e a visão da Torá sobre qualquer assunto ou matéria, quer seja legal, histórico ou filosófico. Portanto, uma prova ou declaração que possa dar a impressão de ser auto-evidenciada poderá ser questionada ou mesmo rejeitada pelo Talmud - pois pode conter alguma falha sutil, quase imperceptível em sua lógica ou argumentação. Este apenas aceita a argumentação mais convincente. Simboliza a busca do judaísmo pela verdade absoluta. Não há dogmas na religião judaica: quase tudo pode e deve ser questionado, apesar de que a pessoa conscienciosa deve entender que a alma humana ainda não está preparada e, portanto, não pode pretender compreender, em toda a sua plenitude, a Vontade e a Sabedoria do Criador.
Como o objetivo primordial do Talmud é essa busca da verdade, esta obra é praticamente toda estruturada em perguntas e respostas. E mesmo quando as perguntas não são explicitamente articuladas, encontram-se por trás de cada afirmação e ensinamento. Talvez seja o único livro sagrado, no mundo, que não apenas permite, mas estimula os que o estudam a questioná-lo. A Sabedoria de D’us está oculta em suas palavras, cabendo a cada um dos que o estudam, seja este sábio ou iniciante, tentar desenterrá-la. No entanto, é preciso lembrar-se que a Torá, em sua plenitude, originou-se de D’us; cada um de seus ensinamentos que já foi ou venha a ser praticado, foi transmitido a Moisés no Monte Sinai. Assim sendo, quando um sábio Talmudista faz uma afirmação, ele não está agregando ou opinando sobre algo, mas sim revelando um assunto da lei ou da sabedoria Divina. Aquele que domina as matérias acerca da lei judaica precisa ser um verdadeiro mestre
É bem verdade que há diferenças de opinião no Talmud e isto, infelizmente, tem sido usado como desculpa para interpretações pessoais e aplicações impróprias ou tentativas de “reformular” as leis da Torá. Estas concepções errôneas geralmente são oriundas da falta de entendimento da dimensão espiritual da lei judaica. Diferentemente dos campos de conhecimento secular, pontos de vista diferentes sobre a Torá não constituem imprecisão ou erro. Pelo contrário, os mandamentos aparentemente contraditórios - que na prática, são raros - refletem as diferentes maneiras pelas quais D’us se relaciona com o mundo: por vezes com flexibilidade e condescendência, por vezes, com maior severidade. Uma das maiores polêmicas históricas no Talmud ocorre entre as escolas de dois grandes sábios: Hillel e Shammai. Suas disputas acabaram sendo resolvidas por uma voz que emanou dos Céus, afirmando: “Ambos transmitem as palavras do D’us Vivo, mas a decisão está alinhada com a escola de Hillel”. O fato de um método ser preferível ao outro não invalida o outro nem significa que seja impreciso, de forma alguma. Os místicos judeus ensinaram que Hillel personificava o atributo Divino da flexibilidade e condescendência, enquanto que Shammai incorporava as qualidades Divinas da precisão e do rigor. Explicam que como vivemos em um mundo imperfeito, necessitando constantemente de misericórdia, seguimos, quase que sem exceção, os mandamentos da Torá de acordo com os ditames da escola de Hillel. Na era messiânica, no entanto, quando o mundo atingir um estado de perfeição, iremos seguir a Torá como a ensinava Shammai. Por isso, devemos sempre lembrar que não há ensinamento alheio, não pertinente, no Talmud. Ainda que não sejam seguidos os ensinamentos de um determinado sábio - qualquer que seja a razão para tal - não podem, de forma alguma, ser depreciados, pois também esses preceitos são oriundos do Monte Sinai. Há uma história sobre um sábio que afirmou que um certo ensinamento não era de seu agrado, sendo repreendido por seus colegas que lhe disseram ser errado afirmar que “isto é bom e isto não é”, em se tratando da Torá.
O Pentateuco, em sua totalidade, é perfeito e aquele que o estuda com o espírito preparado - e com todo o respeito que merece - conecta-se de imediato com D’us. Pois o Senhor de Tudo, cujo Saber é Infinito, “condensou” Sua Sabedoria
Através dos séculos, o povo judeu fez muitos sacrifício, para poder estudar e ensinar e, desta forma, preservar o Talmud. Entenderam - da mesma forma, como, infelizmente, o fizeram seus inimigos - que, de fato, era o que os preservava. Não há antídoto maior contra a assimilação judaica do que o estudo da Torá. E esta é uma das razões pelas quais, juntamente com a prática da caridade, constitui o maior dos mandamentos Divinos. Mas este estudo serve como uma confirmação disso, ainda maior do que a sobrevivência coletiva do povo judeu. Ensinam os nossos sábios que o estudo adequado da Torá “salva e protege” e é fonte de bênçãos para uma vida longa, com fartura e benesses. Pois está escrito: “O alongar-se da vida está na sua mão direita; na sua esquerda, riquezas e honra” (Provérbios, 3:16). Mesmo se apenas um único indivíduo estudar a Torá, são tantos e tão grandes os seus méritos, que têm o poder de acarretar bênçãos para o mundo inteiro. O judaísmo ensina que toda a existência física é sustentada pela força da oração, pelo estudo da Torá e pela prática de atos de bondade e justiça. Aquele que estuda a Lei de Moisés, torna-se, portanto, parceiro d’Aquele que sustenta o Universo por Ele criado.
Os sábios talmúdicos e mestres da Cabalá revelam que o estudo da Torá serve como escudo para a alma humana, protegendo-a após a vida. E, como “não há esquecimento diante do Trono de Glória do Senhor”, mesmo se uma pessoa esquecer parte da sabedoria da Torá que adquiriu, sua alma a recorda e a transporta para a eternidade. Contanto que a pessoa se mantenha fiel a seus preceitos, aprofundando-se nos mesmos e andando por seus caminhos, esta mesma Torá sempre implorará diante da Corte Celestial por essa pessoa e por todo o povo judeu. Por isso, afirmamos na prece que celebra o término de um tratado do Talmud: “A ti voltaremos e tu retornarás a nós; nossos pensamentos estão fixos em ti, assim como os teus estão fixos em nós; não te esqueceremos assim como tu não nos esquecerás - nem neste mundo, nem no Mundo Vindouro!”
Tev Djmal
Tradução: Lilia Wachsmann
Bibliografia
• The Essential Talmud Rabbi Adin Steinsaltz Basic Books HarperCollins Publishers
• The Talmud The Steinsaltz Edition Reference Guide ,Random House
• Talmud Bavli The Schottenstein Edition Artscroll Mesorah Publications, Ltda.
• The Mishnah Yad Avraham, Artscroll Mishnah Series Mesorah Publications, Ltda.
Não há antídoto maior contra a assimilação
judaica do que o estudo da Torá. E esta é uma das razões pelas quais,
juntamente com a prática da caridade, constitui o maior dos mandamentos Divinos
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